quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Revivendo Queer as Folk - Parte I: I'll show you the world

Queer as Folk é, junto d'O Encontro Marcado, uma das coisas das quais eu nunca me canso de falar sobre. Depois de finalmente terminar de assistir a versão original, que é britânica, decidi rever a americana e ir escrevendo sobre a série enquanto isso acontece. Então vamos à introdução do amor (tem coisas que eu já falei em outros lugares, mas vou repetir assim mesmo pra deixar registrado).


Eis que um belo dia, Russell T. Davies, que alguns anos mais tarde escreveria a volta de Doctor Who para a televisão, achou que seria uma boa ideia escrever uma série sobre três homens gays. O ano era 1999, e mídia especificamente voltada para o público queer não era exatamente comum - muito menos nos moldes em que ele faria isso. Nasceu assim a série Queer as Folk no Channel 4 da televisão britânica. Ela teve apenas duas temporadas, mas lançou a base da sua versão americo-canadense.

Na QAF original, a história gira ao redor de Stuart, um publicitário hedonista de vinte e nove anos, seu amigo Vince e Nathan, um garoto de quinze anos que entra na sua vida de repente e se apaixona por ele. Em 2000, o canal Showtime lançou a nova versão da série que, como todo reboot americano que se preze, era muito mais pop do que a original e, consequentemente, acabou sendo a versão mais conhecida - muita gente nem sabe que existe a britânica, e muito menos que ela foi a primeira. 

Queer as Folk talvez não seja uma série perfeita, também não é um mar de igualdades (personagens bi? trans? anyone?), mas abriu muitas portas em muitos sentidos. A primeira vez em que ouvi falar de QAF foi em 2005, justamente no ano em que a série americana terminou. Naquela época eu tinha treze anos e internet discada; there was no such thing as baixar séries pra assistir e o youtube ainda estava começando. Então até 2009 tudo o que eu pude fazer em relação à série era ler algumas coisas, ver algumas fotos e ter uma noção de que era aquilo que eu queria assistir quando pudesse. Um dia eu pude. Já com dezessete anos e munida de internet 3G, assisti a primeira temporada toda no youtube. 

A versão americana transformou Stuart em Brian, Vince em Michael (com um belo trabalho de adaptação à cultura americana ao trocar a paixão por Doctor Who pelos quadrinhos) e Nathan em Justin (dois anos mais velho, para evitar problemas). O que mais me impressionou quando comecei a ver QAF UK foi perceber como a versão americana é extremamente fiel à original. Fiel ao ponto de você poder colocar as primeiras temporadas das duas séries lado a lado e ir marcando todas as cenas em que até mesmo as falas são iguais, salvo as modificações necessárias de gírias e expressões. Achei genial. QAF US não apenas se manteve fiel à origem da história como deu à ela todo um desenvolvimento que não existia na primeira versão. Ainda mantendo o foco nos três personagens principais, outros ganharam mais destaque e, no formato clássico das séries americanas, com muito mais episódios e mais temporadas foi possível desenvolver todos esses personagens e vários subplots que não teriam sido possíveis na britânica. E, mesmo depois de cinco temporadas e de os personagens terem crescido por si, QAF US ainda foi capaz de ter uma series finale que ainda fazia referência ao final de QAF UK. É o melhor trabalho de adaptação que eu já vi e também o melhor final de série ever, muito embora eu seja suspeita pra falar.


qaf us e qaf uk, respectivamente

I'll show you the wolrd, é o que Brian diz para Michael no primeiro episódio de QAF US. Foi exatamente isso que Queer as Folk fez por mim; me mostrou que eu não estava sozinha. É engraçado porque, por mais distante que a realidade da Liberty Avenue seja da minha e por mais que a representação queer não seja completa na série (e dificilmente ela é em qualquer lugar), eu finalmente me senti fazendo parte de algo. Aquilo era meu. Tinha sido feito pra mim; no sentido de que era feito por pessoas como eu, para pessoas como eu. Os personagens de QAF são humanos, e é isso que sempre faltou na representação geral de pessoas queer na mídia. Somos caricatos, somos estereotipados, somos personagens-cota, mas nunca pessoas de verdade. QAF fala da vida de homens e mulheres queer do modo como eles realmente são: pessoas normais, como todas as outras representadas por aí. Queer as Folk, nos seus cinco anos de duração, falou de AIDS, homofobia, casamento homossexual, família, amizade, amor, sexo; mostrou pessoas boas, filhos da puta (oi Brian, estou falando com você), bons amigos, maus amigos, e todo tipo de relação entre pessoas. Sem julgamentos ou eufemismos, Queer as Folk me mostrou um mundo do qual eu fazia parte, mas que eu ainda não sabia - não porque era um ~universo gay, mas porque era o que estava ao meu redor o tempo todo, invisibilizado pela ideia que metem nas nossas cabeças de que não existimos. Foi isso que a série representou pra mim, ainda representa, e por isso eu a amo tanto.


I'm superman. I'll show you the world.


*

(vou colocando essa série de posts no keep calm and watch a movie também assim que tiver disposição pra traduzir -q)

Um comentário:

Mah disse...

adorei o post! vou com certeza pensar em ver´
n sei se vc se lembra, há mt tempo eu publicava uma história minha no blog, e agora eu voltei a escrever, eu lembro q vc era uma das q gostavam, qm sabe vc curta (:
ta aq o link caso queira aparecer

http://irracionalidade-racional.blogspot.com.br/search/label/E%20se%20tudo%20fosse%20diferente%3F