segunda-feira, 7 de julho de 2008

Existe vida antes da morte?

Olá...
Eu ei, faz tempo que não passo aqui... Mas é que (pausa dramátia pra soltar a mesma desculpa de sempre)... tô sem tempo xD Mas em breve estarei de férias e talvez eu pose mais...
Hoje vou postar um trecho do primeiro capítulo do Will. Assim vocês vão se familiarizando com ele desde o início da história.

Aí vai:

Parte I – Prelúdio para a solidão


Capítulo I - Untitled



Novembro de 1980; outono. Por algum motivo estranho, os grandes acontecimentos da minha vida sempre vinham no outono. E o primeiro de todos eles foi o meu nascimento, a 22 de outubro de 1965. Mas isso não importa agora.

O que importa é que, nesse início de novembro, as coisas começaram a mudar. Percebi isso quando, pela primeira vez desde que cheguei a Londres, mudei o caminho pra casa, entrando em uma rua diferente da que costumava entrar. Fiz isso porque tive a idéia repentina e irresistível de comprar sorvete. Entrei numa rua onde desconfiava que havia uma padaria e saí de lá com uma lata de 400 ml de sorvete de flocos na mão, pronto para continuar o caminho normal. Mas tive outro impulso e resolvi comer numa praça ali perto, tranqüilamente sentado. E foi o que fiz.

Uma das coisas mais bonitas do outono são as praças; elas ficam aconchegantes e douradas, quando as árvores soltam as folhas secas... Fiquei sentado lá, admirando o vento do fim de tarde derrubar as folhas quando outra coisa me chamou a atenção: um homem, com vários livros nos braços, lutando para não deixar nenhum cair. Por fim, ele os despejou no banco onde eu estava e se sentou também, cansado e praguejando palavrões em espanhol. Baixei a cabeça pro meu sorvete quase terminado, sem querer ser notado, mas não deu muito certo.


- Boa tarde. - ele disse, esticando o pescoço para me ver do outro lado dos livros. Acenei, pensando “Já é quase noite, mas tudo bem”, e voltei ao sorvete, mas já tinha acabado. Suspirei e coloquei a lata ao meu lado. Já estava pegando a mochila e levantando para ir embora quando o tal falou de novo, parecendo ter superado uma grande crise interior: - Será que você poderia me ajudar a levar isso? Eu moro a umas duas ruas daqui; não é muito longe.


E foi aí que o olhei pela primeira vez com atenção. Era moreno, tinha cabelos pretos e olhos claros que pareciam suplicar para que eu o ajudasse. Hesitei por alguns segundos, mas depois murmurei um “Tá”, e então vi seu sorriso pela primeira vez; um sorriso de alívio, mas autêntico. Ele levantou e dividiu a pilha em duas partes, entregando uma pra mim, e seguimos rumo à sua casa.


- Eu sei que não devia estar pedindo isso, que é um abuso e tudo o mais, - ele dizia, enquanto andávamos – Mas tava meio difícil ir sozinho.


- Tudo bem. - respondi. Percebi que ele me olhou de relance, e continuei andando.


Ao fim de poucos minutos chegamos em frente a uma livraria chamada Stefani & Stefani. O homem se contorceu um pouco para pegar as chaves e abriu a porta. Entramos.


- Pode colocar aqui. - disse, me indicando uma mesa.


Uma vez livre do fardo dos livros, dei uma olhada no lugar. Era pequeno, escuro e cheirava a mofo. Terrível.


- Orlando. - ele se apresentou, me estendendo a mão.


- Will. - respondi, apertando a mão oferecida.


- Moro lá em cima. - ele continuou, apontando uma escada atrás da mesa. - Se quiser, sabe...


- Claro. - respondi, sem saber. Segui-o através da escada estreita.


A primeira visão que tive da casa foi um choque. Ao contrário da livraria, era bastante clara e limpa. Orlando se adiantou até a cozinha e começou a preparar algo que me parecia ser café. Quando ele trouxe as xícaras eu já estava no sofá, e ele se sentou também.


- A livraria é sua, então? - perguntei.


- É.


- Pois é horrível. Cheira a livros velhos. - comentei, displicente. Depois me recriminei por esse péssimo hábito de ser sincero, mas ele não pareceu dar importância. Na verdade, apenas riu.


- Precisa de uns cuidados mesmo... - disse, depois de algum tempo, e continuou bebendo o café. Eu já tinha desistido do meu na metade; era muito ruim.


Percebi então que os olhos dele eram cinzentos. Como uma tempestade. A pele era morena de sol e quase brilhava, ou talvez eu estivesse apenas delirando. Nunca tinha visto uma cor tão bonita assim... Levantei, decidido a ir embora, mas algo me dizia que se ele dissesse “Não vá” eu não mexeria mais um músculo sequer.


- Já vai? - ele perguntou quando lhe devolvi a xícara. Que pergunta idiota! Era óbvio que eu estava indo embora, mas me limitei a responder um simples “Já”. Orlando se levantou também e, passando à minha frente, segurou a porta para mim. - Quando der...


- Certo.


Ele não precisava terminar as frases; eu sempre sabia o que queria dizer, desde aquele momento, e sempre saberia. Mas isso não fazia dele uma pessoa previsível; na verdade, dava uma sensação boa de que nos conhecíamos o suficiente para não falar. Naquele momento era apenas uma sensação, claro, porque eu só o conhecia há uma hora, mas mesmo assim foi bom. Foi o que me deu confiança para lhe abrir um sorriso quando já estava saindo e dizendo “Tchau”.

Desci a escada sozinho e, ao sair para a rua, vi que ele me olhava de uma janela. Acenei mais uma vez e continuei meu caminho. Enquanto sentia seu olhar me seguindo até a esquina como uma presença quente e protetora.



- x -


- O que você tem? - Al me perguntou de repente, levantando os olhos do caderno.


Estávamos no quarto dele, estudando. Também acontecia com Al isso de não precisar de palavras; eu sabia que ele se referia ao estado sonhador em que eu me encontrava desde a noite anterior.


- Nada demais... Aconteceram uma coisas estranhas ontem.


- Que tipo de coisas estranhas? - ele insistiu, voltando a fazer o dever.

- Ajudei um cara a carregar uns livros.


- E o que isso tem de estranho?


- Ah, sei lá... É que fiquei pensando nele depois, só isso. - respondi, tentando me esquivar de mais perguntas. Não funcionou.


- Como ele era?


- Moreno, alto, bonito e gentil. - despejei.


- Resumindo, é o sonho das colegiais de Londres... - ele zombou. Joguei um travesseiro nele, o que serviu para adiar a próxima pergunta. - Qual o nome dele?


- Orlando, porquê? - perguntei, distraído, mas percebi que ele parecia reconhecer alguma coisa quando falei o nome.


- E ele tem uma livraria chamada Stefani & Stefani, pois é... - ele continuou, rindo. Eu ainda estava perplexo. - Acho que você conheceu meu primo.


- Como é que é? Ele não pode ser seu primo, ele tem muito mais melanina que você e... Ai, caramba... - dei um tapa na minha própria testa. Tinha acabado de me ocorrer mais uma coisa que me escapara na noite anterior. - Como eu não me toquei que vocês têm o mesmo sobrenome? - perguntei, desolado.


- Acontece... Meu pai tem um irmão que vive no México e se casou por lá.


- Isso explica a melanina.


- É, explica.


- Você seria mais bonito se fosse moreno como ele. - comentei.


Rimos por algum tempo e voltamos aos livros. Só então percebi que o jeito de Orlando me lembrava Al de alguma forma. Que burrice não lembrar o sobrenome dele!


- Vai voltar lá? - ele perguntou depois de vários minutos de silêncio.


- Acho que sim... Não sei, talvez... Mas porque eu voltaria?


- Pra vê-lo de novo, oras.


- E porque eu quereria vê-lo de novo?


- Isso é alguma espécie de auto-análise?


- Responde, vai... É importante pro meu auto-conhecimento.


- Tá... Você quer vê-lo de novo para entender porque pensa tanto nele.


- Boa resposta... Acho que é isso mesmo...


- Então vai lá hoje.


- Hoje não; semana que vem.


- Como queira.



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Esse trecho tem uma continuação e tal, mas ainda não digitei xD Bom é só isso por hoje.

Até mais o/*

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorávell
muito massa
posta o restoo

Bjus

Patrycia Rodrigues disse...

esplendido!!!
como tudo que vc escreve!!!
saudades de vc moça...
gostaria de revê-la em breve!!

Te Amo!