Descobri a existência de Bem-vindo à casa de bonecas no blog Cinema e Eu - se bem que o nome do filme não me era estranho, talvez eu já tivesse ouvido falar antes e, consequentemente, fiquei interessada nos outros filmes do Todd Solondz. Quando assistir talvez fale deles também.
Mas então. Antes de qualquer coisa, uma situação hipotética.
Suponha que você acordou de bom humor, ou está feliz porque finalmente chegaram as suas merecidas férias (o que não é o meu caso, fuuu) e tá afim de ir ao cinema. Você chama uns amigos, ou então vai sozinho, com a melhor das intenções de se divertir e fugir da realidade, ou simplesmente comemorar a sua boa realidade.
Então Bem-vindo à casa de bonecas não é o tipo de filme que você escolheria pra essa ocasião.
Explico.
A sinopse é relativamente simples e a situação que o filme conta pode ser vista em boa parte dos filmes da Sessão da Tarde, principalmente naqueles ~clássicos~ dos anos 80 e 90. Uma diferença básica é que, nesses filmes, isso é o apenas mais um pedaço do pano de fundo. Aqui, em Bem-vindo à casa de bonecas, temos Dawn, uma menina de onze anos que é constantemente importunada na escola pelos mais variados motivos idiotas do universo. O principal delas é que ela é feia. (o que, convenhamos, ela nem é. mas né, desde quando se precisa de motivos reais pra implicar com os outros?)
Então, Moony, qual é a diferença entre filme e os outros tantos milhões que falam sobre bullying?
Te conto.
Primeiro convém lembrar que existe toda uma ~cultura~ do bullying nos Estados Unidos. Claro que bullying existe em todo lugar e em todos os níveis de intensidade, mas reparem que em basicamente todo filme americano que se passa em uma escola existe a mesma fórmula básica. Agora é a hora em que você diz que isso não acontece apenas em filmes americanos, e você está certo, mas convém também lembrar quais são os filmes que nos bombardeiam desde crianças. Exatamente. Os filmes americanos. Nada contra o cinema americano em si, é mais uma questão de quantidade mesmo.
Anyway, o fato é que a gente, de tanto ver essa fórmula repetida, se acostuma com ela. Que fórmula é essa? A clássica divisão dentro das escolas, os valentões, os nerds, as meninas bonitas, as meninas feias, etc. Divisão essa que acontece em todas as escolas do mundo - e pra muitas pessoas continua pelo resto da vida - e a gente só precisa olhar pro lado pra ver, mas que já cansou de ser mostrada como algo inofensivo e engraçado na televisão e no cinema.
Agora vamos voltar ao filme.
A diferença de Bem-vindo à casa de bonecas é que ele é um filme cru e direto. Sem fantasias ou eufemismos, ele mostra o que a Dawn sofre bem na tua cara, sem te dar tempo de pensar o que foi que te atingiu. Não é um filme que vá te fazer rir, ou talvez nem chorar (eu não chorei, REFLITAM), mas deixa aquela sensação no final, sabe? A sensação de que nada faz sentido e de que isso é o fundo do poço.
Porque é isso que acontece, sabe? Se existe uma coisa que não precisa de motivo nenhum pra acontecer, é o ódio. É o sentimento mais gratuito do mundo. Ele pode ter toda uma base profunda pra "se apoiar", digamos assim, mas também pode acontecer por causa de um simples bom-dia não dito.
Dizem que os filmes do Todd Solondz têm humor negro. Não é humor no sentido clássico da palavra, não é aquela coisa que vai te fazer rir porque é engraçada, mas sim é o que um cara no IMDB definiu bem como "o humor da fraqueza humana". Acho tenso e insensível quem chama esse filme de comédia, porque ele não é. Na boa, se tu acha que isso é comédia, daquelas que tu vê no cinema comendo pipoca e se cagando de rir... não sei, não, viu.
Sabe aquela cena de quando você vê uma pessoa sendo assaltada praticamente ao seu lado e olha ao redor esperando que alguém tome a iniciativa de chamar a polícia e, quando vê que ninguém vai fazer isso, você finge que não viu e vai embora? Sabe quando faz uma piada de mau gosto sobre um colega e você não sabe bem o que fazer e então ri? Sabe quando você vê uma aglomeração de pessoas na rua e quando chega perto descobre que elas estão tirando fotos de um acidente de carro e acenando pra câmera do jornal? É essa a sensação.
No outro extremo, há quem não goste porque te deixa deprimido. Ele até está numa lista dos 35 filmes mais deprimentes ever. É claro que eu não gosto de ficar triste, mas não é por isso que vou fugir de filmes que me deixem triste. Gosto de filmes que me emocionam, porque isso significa que eles conseguiram atingir alguma coisa certa em mim.
Enfim.
Ah, nos clássicos da Sessão da Tarde também não é incomum que os bullys se redimam no final, ou que tenham toda uma história dramática pra dar base ao que fazem com os outros e, especialmente, que as vítimas sejam anjos. Dawn não é um anjo, ela reage como um ser humano - especialmente um ser humano de onze anos - reagiria, mas isso também não a faz merecedora do que recebe. Nada faz, na verdade. Principalmente se você considerar o fato de que a realidade dela dentro da casa não é muito diferente da escola. Pra onde fugir quando os dois lugares em que você deveria ser mais amado e/ou respeitado são um inferno?
2 comentários:
Talvez se retrate tanto assim o Bullying no cinema americano pelo o mesmo estar tão enraizado nela...
Nem todos os filmes deveria ter mil explosões e mais n-mortes no caminho dos protagonistas.
Fique com Deus, menina Moony.
Um abraço.
Moony e Rôh, passei para uma visita e desejar Feliz Natal.
O blog continua lindo , post bacana...
Um Ano Novo melhor para todos nós ...
grande beijo!
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