terça-feira, 24 de novembro de 2009

I kissed you, said 'later,' and then you turned around and smiled. Then I knew why Debbie calls you Sunshine.

("Eu te beijei, disse 'até logo', e então você se virou e sorriu. Então eu soube porque a Debbie te chama de Sunshine." - Brian para Justin, em QAF. Saiba o que essa sigla significa no post abaixo.)


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Antes do post, uma coisa importante. Importantíssima, aliás:


ELE PASSOU!!! YARUL!!


(dêem vivas ao Rôh, pois ele passou na primeira fase da UFC, Psicologia!)


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Tá, agora o post:


Para fazer jus ao meu título – que eu mesma dei – de irresponsável mor, nos últimos tempos, em vez de estudar, fui assistir uns filmes e seriados. Permitam-me abrir um momento Espaço Cultural .status quo. neste post, pra falar deles e fazer com que vocês também tenham vontade de assistir (assim espero). Menores de dezoito anos, retirem-se (ops, vou ter que me retirar também).


Vou começar com apenas uma série e um filme, porque se fosse falar de todos o post ficaria imenso.



Queer as Folk (seriado)


QAF foi exibido na TV a cabo (com o terrível, avassalador e horroroso título de Os Assumidos aqui no Brasil – tinha que ser aqui, né) entre os anos 2000 e 2005, em cinco temporadas. É a versão americana/canadense do seriado britânico de mesmo nome que foi ao ar entre 1999 e 2000, em apenas duas temporadas. A rainha que me perdoe,mas dessa vez tenho que dar os créditos aos americanos/canadenses, que fizeram uma versão de qualidade da obra original, até superando-a. O nome do seriado é uma brincadeira com um ditado em inglês, de "ninguém é tão estranho como nós" ("nobody is so weird as folk"), para "ninguém é tão gay como nós" ("nobody is so queer as folk").


Queer As Folk narra a história de cinco homens homossexuais que vivem em Pittsburgh, Pennsylvania: Brian, Justin, Michael, Emmett e Ted. Compondo o elenco principal, ainda temos o casal de lésbicas, Lindsay e Melanie e a mãe orgulhosa de Michael, Debbie.

Este seriado é um marco na luta dos direitos GLBT, pois investe em uma trama sem cunho pornográfico ou apelativo, mostrando homossexuais como pessoas comuns, vivendo em seu dia-a-dia. As dificuldades e conquistas desta comunidade são brilhantemente retratadas nesta produção.


Ainda estou no comecinho da segunda temporada, e devo dizer que entre o fim da primeira e essa segunda derramei uns bons litros de lágrimas. QAF é viciante, sincero, te faz rir e chorar quase ao mesmo tempo e pelos mesmos motivos, os personagens são cativantes, e não tem nada de absurdo. Como disse o trechinho aí de cima, QAF não precisa apelar pros velhos estereótipos e para um dramalhão para conquistar o lugar que merece.


(E, quanto aos personagens, devo dizer que Brian é o filho da puta mais filho da puta do universo e, por isso mesmo, ele é incrível e apaixonante. Vão me entender quando o conhecerem.)


Cuidado: se você é homofóbico, pra início de conversa nem deveria estar neste blog. Se você não tá afim de ver, ou não pode ver, cenas de sexo, , diversas vezes e, , sem atenuações, também é melhor não assistir. Se você acha que os direitos GLBT devem ser defendidos, mas sem precisar mostrar dois caras/mulheres se beijando, então talvez seja melhor rever seus conceitos.


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Má Educação (La Mala Educacíon. 2004)


Gosta de Almodóvar? Ótimo, meio caminho andado. Nunca viu? Vai ver agora. Não gosta? Fazer o quê, né, a vida é assim. Você pode gostar agora.


Má Educação tem um enredo inicial relativamente simples: o diretor de cinema Enrique, belo dia, é procurado por um antigo colega de escola, chamado Ignacio, por quem ele era apaixonado. Esse colega se tornou ator, e entrega a Enrique um roteiro escrito por ele mesmo, chamado A Visita, baseado na infância deles no colégio católico. Beleza. Enrique lê o roteiro, que relata os abusos que o padre diretor cometia com Ignacio, e a causa da expulsão de Enrique da escola: o ciúme que o padre sentia da relação dos dois amigos. Daí, Ignacio permite que Enrique grave o filme, com uma única condição: que ele mesmo faça o papel de Ignacio.


Essa trama metalingüística, por si só, já daria um bom filme. Afinal, está nas mãos de um ótimo diretor. Mas Almodóvar vai além e, ao longo do filme, você verá o quanto esse início simples se torna intricado e instigante.


Almodóvar é conhecido pelas suas personagens femininas, seus ângulos e suas cores. A diferença básica em Má Educação é que dessa vez não há praticamente nenhuma personagem feminina. Mas, ao contrário do que se pode pensar, o filme não apela pra questão do homossexualismo nem condena ferrenhamente a Igreja. Ele não precisa disso pra ser uma boa história.


Alguns dizem que o filme peca pelas cenas de sexo “excessivamente pornôs”. Eu, sinceramente, não vi nada disso ali. Aliás, nem são tantas. Não sei se é porque estou acostumada com algo mais cru mesmo, ou se é porque não acharam mais o que criticar (e, do jeito que eu tô meio revoltada hoje, digo logo que se fossem cenas hétero, tava todo mundo achando muito bom e poético). Aliás, por falar nisso, uma das grandes características de Má Educação, pra mim, foi justamente a crueza. E não falo só de sexo. A história, como um todo, é crua, vibrante. Um soco no estômago, um quebrar de pernas. E, curiosamente, as cenas mais delicadas e bonitas, visualmente falando, são as do colégio, onde Ignacio era abusado pelo padre Manolo. Uma boa analogia sobre como a vida do garoto se tornou o que se tornou: de simples e inocente à seca e crua.


Destaco também a atuação de Gael García Bernal (sim, o Che, de Diários de Motocicleta). Ele está super versátil nesse filme, interpretando, veja bem, uns tantos personagens diferentes, e ao mesmo tempo a mesma pessoa (Ignacio) - vocês ainda vão me entender, eu acredito -, entre eles o travesti Zahara.


Dizem que o filme é uma autobiografia de Almodóvar, principalmente pelo que se vê nos segundos finais. O que ele mesmo diz, no entanto, é:


"É um filme muito íntimo, mas não é autobiográfico. Não falo de minha vida no colégio (...). Obviamente minhas memórias foram importantes na hora de escrever o roteiro, já que vivi nos locais e momentos onde a história se passa. ‘Má Educação’ não é um ajuste de contas com os padres que me educaram mal, nem com a Igreja em geral. Caso tivesse necessidade de me vingar, não teria esperado quarenta anos para fazê-lo. A Igreja não me interessa, nem como adversária. O filme não é uma comédia, ainda que haja humor, nem um musical infantil, ainda que crianças cantem. É um film noir, ou, pelo menos, gostaria de considerá-lo assim. O gênero noir admite bem a mistura com outros gêneros, sempre que a narração respire esse ar fatal, sem o qual o negro seria cinza. No noir pode não haver polícia nem armas, nem sequer violência física, mas tem de haver mentiras e fatalidade, qualidades que normalmente uma mulher encarna: a femme fatale. Ela é consciente de seu poder de sedução e é fria, razão pela qual não se altera facilmente. É alguém que perdeu os escrúpulos e não se interessa em recuperá-los. Para ela, o sexo não é fonte de prazer e sim de dor para os demais. Em Má Educação, a femme fatale é um enfant terrible, o personagem interpretado por Gael Garcia Bernal."


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No meu próximo surto cinematográfico: Les Chansons d’Amour e, se Deus quiser, Os Sonhadores (The Dreamers).


No meu, cada vez mais próximo, surto literário: Grande Sertão: Veredas e O Iluminado.


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(eu tava com saudade de escrever assim, com paixão. dessa vontade de compartilhar minhas opiniões. acho que estou de volta.)


3 comentários:

Anônimo disse...

Volta em grande estilo, diga-se de passagem... Prq incrivelmente bem inteligente as informações!

BJinhos =***

PS.:Parabéns RôH, lindo! *.*

Daniel Savio disse...

E Parabéns para o Rôh.

Interessante a série e o filme citados...

Mas o Layout ficou meio estranho e dificil de ler (desculpa falar isto)...

Fique com Deus, menina Moony.
Um abraço.

Pattinha disse...

eu amo Má educação, é de longe o meu filme preferido do Almodovar e o primeiro dele que eu realmente gostei... Sem falar no Gael que arrasa.

bjsss