sábado, 18 de dezembro de 2010

Someone you put on a pedestal is always right

Hoje lhes apresento Xavier Dolan:


Descobri a existência do Xavier meio que por acaso, olhando as atualizações do Laranja Psicodélica e uma crítica no Cinema e Eu. Quando vi que a crítica do Luciano pra Eu matei minha mãe (J'ai tué ma mère, 2009) era boa, fiquei curiosa e vi o filme que, basicamente, fala sobre a tempestuosa relação do Hubert (interpretado pelo próprio Xavier Dolan) com a mãe. 

O fato é que, pelo que eu vejo, Xavier é bem o tipo de diretor que ou as pessoas amam ou odeiam, sem muitos meio-termos. Não acho que dê pra ficar exatamente indiferente. A primeira coisa que a gente deve lembrar é que o cara é jovem pra caralho e indubitavelmente talentoso. Mas existem dois pontos que a galere adora criticar:

1 - Que o rapaz é apenas um gay emo mimado chato pra porra.

2 - Que os filmes dele tem uma estética exagerada demais e personagens superficiais.

Sendo assim, hoje eu vou dar a minha singela opinião sobre esses dois pontos.

Primeiro, não fico tirando conclusões sobre como ele é como pessoa só por assistir J'ai tué ma mère. Afinal, somos todos bem crescidinhos pra saber separar o profissional do pessoal, não somos? Hubert (aka Xavier) é sim dramático e exagerado, mas quem não foi assim aos dezesseis anos? Quem nunca teve ódio dos pais pelo menos uma vez na vida, até mesmo por algum motivo extremamente bobo? Poucas pessoas. Pouquíssimas, eu diria.



Não acho que isso seja motivo suficiente para taxar o personagem de superficial. Ou, melhor dizendo, dizer que a construção dele é superficial, já que sabemos que existem personagens que precisam sim de uma certa superficialidade nas suas ações. De personagens adolescentes em qualquer lugar com pelo menos alguns traços de superficialidade temos aos montes.



Mas a primeira coisa que eu notei em J'ai tué ma mère, e que foi o que ficou de mais marcante pra mim, é que é um filme bonito. No sentido estético mesmo, com cenas extremamente coloridas (um alô pro cinema francês) e outras extremamente escuras, a ponto de a gente quase não conseguir ver os atores. Se é pra dizer que Xavier é dramático e exagerado, digo que ele é sim na direção. E isso não nem de longe é ruim; vide Almodóvar

Daí que anteontem vi Les Amours Imaginaires (2010).



Vou te contar uma coisa: fiquei sem ar. Não pense que é apenas porque tinha Xavier e Niels Schneider no elenco; o objetivo do slowmotion era mesmo nos tirar o ar, eu diria. Olha, se tem uma coisa que dá pra perceber que Xavier Dolan gosta, é câmera lenta. Há quem aponte aí mais um traço de exagero, mas nem acho. Muito pelo contrário, é justamente esse recurso o responsável por algumas das cenas mais bonitas dos dois filmes.

Ah, é, a sinopse.

Les Amours Imaginaires fala sobre dois amigos, Francis (mais uma vez, o próprio Xavier) e Marie, que belo dia conhecem o jovem Nicholas e, pluft, se apaixonam por ele. Cabelo francês, triângulo amoroso, que mais eu quero da vida, meu Deus?



Mas então.

O filme faz jus ao título que tem, porque é exatamente isso: não fala sobre o amor, mas sobre o que nós achamos que é o amor. Principalmente quando somos jovens demais. Pegamos um punhado de ilusões e vamos alimentando e alimentando até colocar uma pessoa num pedestal a tal ponto de que esquecemos quase completamente do que é real. E quem disse que precisa de um tempão pra isso? É praticamente instantâneo.

Mais uma vez, Les Amours Imaginaires é, acima de tudo, muito bonito. Mais colorido que J'ai tué ma mère, e tão angustiante quanto. Não é bem aquele filme que você vai assistir esperando ~ação~ e quilos de desenvolvimento; é mais pra ver e pensar. Ver e deixar que aquilo te fale de uma coisa que, de um jeito ou de outro, a gente já conhece. E, mais uma vez, a superficialidade está nos olhos de quem a vê.  



Claro que Xavier Dolan não é perfeito, né. Só quero ressaltar que o cara fucking vinte e um anos e já fez dois filmes lindos e que eu adorei, e que eu fico feliz de poder acompanhar a carreira dele assim, em tempo real. Ele ainda tem muito tempo pra se aperfeiçoar e, meu caro, se já tá assim agora, imagina quando melhorar.

(só mais uma coisa: o pouco conhecimento que eu tenho dos filmes franceses e europeus vem de filmes recentes, mas dá pra reconhecer muito deles no que eu tenho visto nos canadeneses. Na verdade, dá pra encontrar mais marcas do cinema francês nos filmes do Xavier do que em C.R.A.Z.Y., por exemplo. As marcas de que eu falo não são apenas as cores, mas uma certa falta de rumo - na vida, nos personagens, em tudo - que, se você reparar, é o que mais marca o cinema francês. É um cinema visualmente leve, mas que pode te arrastar até algo bem fundo. Não sei explicar.)

4 comentários:

Larissa disse...

já estava muito a fim de ver esse filme, e sou repetitiva, sei ao dizer que suas resenhas são as melhores!

:)

vi o Roh dia desses de novo, com saudades dele por aqui!

;***

Daniel Savio disse...

Interessante o livro, mas menina, como está você e Rôh?

Espero que bem, sendo que como é a época, feliz natal e um prospero ano novo.

Fiquem com Deus, menina Roh e menina Moony.
Um abraço.

Rafael Cotrim disse...

Devia investir em suas resenhas. ;)
Gostei de ver o seu lado descritivo contrastando com a opinião pessoal

Muito bom.

Sucesso.

João Bertonie disse...

você pode disponibilizar os links pelos quais você baixou esses filmes do xavier? thanks :-)