terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter.

Como eu disse aqui uma vez, antes de ler Grande Sertão: Veredas, eu não tinha muito interesse em romances regionalistas. Preconceito, mesmo. Achava que seria chato. Grande Sertão, no entanto, me surpreendeu.

Do que se trata? Basicamente, é uma narrativa épica que conta a história do amor impossível do jagunço Riobaldo por seu amigo, Diadorim, e as duas grandes guerras que o bando deles enfrentou no sertão de Minas Gerais. Simples assim.

Nas primeiras páginas eu já percebi o quanto essa leitura seria diferente de qualquer outra. A linguagem regionalista levada ao extremo, por assim dizer, torna a leitura lenta e densa, e ao mesmo tempo forma uma das coisas mais interessantes da obra: a inovação lingüística. Apesar de ser contada num fôlego só do narrador, sem capítulos, a história não pode ser lida assim, de uma vez. Levei praticamente dois meses para ler, não só por causa das palavras que exigem um entendimento melhor do contexto, mas também por causa da história em si.

A história de Riobaldo é lenta e claustrofóbica, cheia de reflexões sobre vários aspectos da vida, mesclados às suas incertezas e seu amor impossível por Diadorim. É algo que não deve ser lido apenas “por ler”. Leva um tempo pra digerir, pois você não apenas recebe a informação que é contada, mas também pensa junto com Riobaldo. Durante os quase dois meses que passei lendo, parecia que o livro nunca ia acabar. E isso não era ruim, pois parecia até que os personagens eram velhos conhecidos meus, de tanto que eu sentia que sabia sobre eles, e que a cada dia eu abriria o livro na página seguinte e ouviria uma nova história.

Não é fácil falar sobre uma parte ou outra que tenha gostado mais. Grande Sertão: Veredas é para ser tratado, literalmente, como um todo. Até mesmo os aspectos que poderiam, talvez, serem chamados de negativos (como a leitura lenta e, por vezes, angustiante) tornam tudo mais interessante.

Guimarães Rosa merece respeito por ter criado essa obra. Aliás, um livro que começa “nonada” e termina no infinito (∞) merece respeito. Não só pela genialidade da linguagem e da narração, mas também pela beleza. A história de Riobaldo e Diadorim é, de fato, uma das mais bonitas e bem contadas histórias de amor que já vi. A despeito de toda a complexidade e dos questionamentos de Riobaldo sobre o fato de ser um amor impossível, é tudo tão simples quanto observar as flores ao longo da margem de um rio. São os pequenos gestos, os momentos de observação, os olhos, as palavras. É ao mesmo tempo tão simples e tão complexo que parece que somos nós mesmos que estamos pensando e relembrando aquilo, e talvez por isso seja tão emocionante e real. Pois, ao mesmo tempo que cada frase é como um soco no estômago pelas tantas verdades, há também uma espécie de conforto. É como se alguém nos soprasse no ouvido as palavras exatas para o que queremos expressar e por tantas vezes não conseguimos.

3 comentários:

João Bertonie disse...

Esse Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa, é altamente recomendado por críticos de literatura.
Pena que a geração de hoje deixa-se levar tanto pelos modismos artísticos que acabam esquecendo-se do que realmente é arte.


beigos mil

Daniel Savio disse...

Hua, kkk, ha, ha, cara, Bertonie não sendo sarcastico estou abismao com isto...

Mas qualquer livro é bom para refletir, pois até o pequeno Principe é bom para adultos...

Fique com Deus, menina Moony.
Um abraço.

Raquel Diniz disse...

Cara, foi aml, mas não suporto ouvir sobre Guimarães Rosa e Os Sertões , graças a uma professora ae.. affs ¬¬ Chata viu?!

¬¬